sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O que é a Tecnologia?

       Um acrobata pusera-se a trabalhar; saíra de uma pequena porta e andava pela corda presa a duas torres sobre a praça pública e a multidão.

      Quando se encontrava bem na metade do caminho abriu-se outra vez a portinhola, donde saltou o segundo acrobata que parecia um palhaço com as suas mil cores, o qual seguiu rapidamente o primeiro. “Depressa, bailarino” – gritou sua voz horrível. – “Depressa, mandrião, manhoso, cara deslavada! Olha que te piso os calcanhares!   Que fazes aqui entre estas torres? Na torre devias tu estar metido; impedis o caminho a outro mais ágil do que tu!” E a cada palavra se aproximava mais, mas, quando se encontrou a um passo, ocorreu essas coisa terrível que fez calar toas as bocas e atraiu todos os olhares; lançou um grito diabólico e saltou por sobre o que lhe interceptava o caminho.
    Este, ao ver o rival vitorioso, perdeu a cabeça e a corda, largou o balancim e precipitou-se no abismo como um remoinho de braços e pernas. A praça pública e a multidão pareciam o mar quando se desencadeia a tormenta. Todos fugiram atropeladamente, em especial do lugar onde deveria cair o corpo. Zaratustra permaneceu imóvel, e junto dele caiu justamente o corpo, destroçado, mas vivo ainda. Passado um instante o ferido recuperou os sentidos e viu Zaratustra ajoelhado junto de si. “Que fazes aqui? – disse-lhe. Já há tempo que eu sabia que o diabo me havia de derrubar. Agora me arrasta para o inferno. Queres impedi-lo?”
    “Amigo – respondeu Zaratustra – palavra de honra que tudo isso de que falas não existe, não há demônio nem inferno. A tua alma ainda há de morrer mais depressa do que teu corpo; nada temais”. O homem olhou receoso. “Se dizes a verdade – respondeu – nada perco ao perder a vida. Não passo de um besta que foi ensinada a dançar a poder de pancadas e de fome”.
    “Não – falou Zaratustra – fizeste do perigo o teu ofício, coisa que não é para desprezar. “Agora por causa do teu ofício sucumbes e atendendo a isso vou enterrar-te por minha própria mão”. O moribundo já não respondeu, mas moveu a mão como se procurasse a de Zaratustra para lhe agradecer.

NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra. Martin Claret, São Paulo, 2000. in Capítulo 6 da primeira parte.



            Vivemos nossas vidas de certo jeito – ou certa técnica – e nas relações que temos com a sociedade seja, estudo, família e principalmente trabalho, sempre tem aqueles “diabos” que nos atropelam com suas geringonças mais tecnológicas, e por isso ganham mais status de valor, de atenção e, por que não de aprovação?
Todas as coisas se referem, em maior ou menor grau, a uma técnica. Sendo assim, vivemos sob o primado – diabólico, conforme Nietzsche – da técnica. Surge uma pergunta que não quer calar e que se sobressai entre muitas: “O que faremos com tantas técnicas?”, sendo que o critério de verdade da técnica é que ela simplesmente funciona – isso é um fato incontestável. Nesse transcorrer de ideias, existem técnicas mais verdadeiras do que outras. Pois à medida que certas técnicas vão ficando para traz, em desuso, se tornam falsas, porque, relativamente, ou por não funcionam mais, ou simplesmente por não haver mais lugar para elas.
A técnica pede passagem – ou melhor, muitas vezes apenas passa – e não toma conhecimento da vida humana em relação com as outras pessoas e nem mesmo com a Natureza. Para essa passagem a técnica apresenta seu principal critério de valor, que é a dominação. Se soubermos como a técnica funciona ao mesmo tempo em que as outras pessoas não, então podemos dominar a situação. Nesse sentido de dominação é que se apresenta um pequeno aspecto que se poderia acrescentar à ética, política e epistemologia:
Eticamente falando, afirmamos nossa existência através da capacidade de se ensinar técnicas. Politicamente, nossa existência se afirma pela capacidade de aprender técnicas. Já no terreno epistemológico, nossa existência é afirmada por uma incessante dialógica: ensino – aprendizagem de técnicas. Essas três convergem para a Educação, onde muito mais que ensinar conteúdos, devem-se, novamente, ensinar técnicas; por conseguinte, técnicas para descobrir novas técnicas.

O paradigma da complexidade aplicado sobre a Filosofia da Tecnologia.
A Evolução como conceito emergente. Entendendo como emergência, um todo que surge através da relação, complementar e até antagônica, de suas partes constituintes.



O Homem como o ser tecnologicamente evolutivo da Natureza.
O Homem é um ser tecnológico.
A Evolução como uma metatécnica.
A História da evolução do homem se confunda coma a História da evolução da técnica.
Sem a técnica não há o homem!

É preciso pensar a política, a ética, a educação e tudo mais através da tecnologia e sua relação com o homem. 


Talvez haja outros conhecimentos a adquirir, outras interrogações a fazer hoje, partindo não do que outros souberam, mas do que eles ignoraram.
            S. Moscovici



E ai meu caro leitor, o que é a Tecnologia para vc?

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